21 de fevereiro de 2008

Perdão


Despertei entediado e no ócio do acaso
Joguei o barro, fiz o homem.
Dei-te um mundo pra morar, leis a acatar
Fiz a culpa, o pecado, o julgo
E já o julguei condenado e sem redenção.

Dei o corpo, a mente, a alma -o absolvi-
Ofereci a capacidade de amar, de se apaixonar
Mas fiz um jogo de intrigas e inspirei a disputa
E o homem se fez, em normas cultas, vilão
Um do tipo liberto, esperto e safo.

Criei a moral e a ofereci ao homem
Fora um pacote bem cheio, diria perfeito
Com honra, nobreza, valor e honestidade,
Mas por amor -enamorado de si mesmo- recusou
Preferira a vaidade.

Desvirtuado eu o ameacei, o exilei do paraíso
Quase seguro que estava certo, o homem pulou o muro
E por caminhos incertos andou
Na margem do Rio dos Sonhos, o homem tropeçou,
Caiu, se afogou. Paciência...

Saiu pensando ser eu, inventou a ciência
-Aprendeu a criar-, mas eu mereço -ou não-
Não fiz nada direito, não fui bom como devia
E hoje me resta uma poesia pra me redimir
Faço desses versos meu perdão:

Versejo nesta carta em desculpas a mim mesmo
Desculpa por ser mais um filho da puta -burro-
Por criar a minha imagem e semelhança o homem -feio-
Por desenhar rabiscos ordinários e chamá-los sentimentos -secos-
Por não aperfeiçoar a minha cria, fria, e prostrá-lo de joelhos.

Perdão a mim mesmo por não ser perfeito.
(Max da Fonseca)

Um comentário:

Thiers Rimbaud disse...

Olá profeta da poucas palavras (econômico).
"...Despertei entediado e no ócio do acaso
Joguei o barro, fiz o homem."
Quem mandou?? Quem mandou?
Tem q fazer seleção cara!


A Xícara está de pé!