Na gaveta, dormindo
sob cartas e poemas,
o revólver aguarda.
_Ruy Espinheira Filho
De olhar russo e sotaque alemão
ele vem na contramão do seu destino.
Carrega um menino que pinta ser homem,
suado e cansado, na trama da arte.
Parte, curvilíneo e uniforme,
como que desviando dos males do mundo.
Trôpego na sofreguidão do abandono,
cochila sua realidade no sono do bar.
A velha rotina: prende o ar, concentra,
e vira! Sua sina rasga goela abaixo.
Vodca é sua predileção nas noites frias
em que, com demasia, lembra suas dores.
Amores, família, amigos... Já não tem
quem lhe abrace forte no Natal.
Não que isso seja a falta principal,
mas de fato, ser só no mundo, é fardo.
Olhares atentos em sua chegada
ensaiam aplausos pro seu espetáculo.
Afinal, por trás de um bêbado hálito
há sempre uma tragédia a se encenar.
Parte para sua casa desacompanhado
e a falta de si quase nem é notada.
A hora datada: uma e meia do nove de maio;
belo dia de partida... Resolve ir.
Apanha seu revólver calibre dezoito,
herança de seu avô militar.
E decide por um fim na noite mansa;
convida pra dançar a Morte; dispara.
Antes que a tara suicida lhe goze na cara,
ele se retorna, se repara; regressa!
Interrompido por um comentário sem valor,
ele xinga 'Desgraça!' sem pudor e cospe!
-Acorde, senhor, o bar fechou há dez minutos.
(Max da Fonseca)
@ mail para MAIAKOVSKY
Há 5 anos
6 comentários:
Max, um tema forte, e muito, muito bom, e encerrado com chave de ouro, como se costuma dizer. Parabéns, meu amigo.
Bjs.
Muito bom. Sempre passo por aqui e encontro textos cada vez melhores. Parabéns!
Nossa senhora!
Muito boas palavras Sr. Max!
Muito bom!
Em cima de uma frase; do jeito q gosto. vc retrai a palavra. Digita a letra indecente, Furtiva e escandalosa morte. O toque( aquele q esperavas). Corta a tragédia ou será a espera!
Max é um poet adulto.
Bravo!
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