21 de dezembro de 2010

LADEIRA


Eu, de fato, gostaria de ter sido eterno.
Internamente pouco me faltou,
mas também sobras não me houveram.
A quietude é que incomoda o lago;
Desse lado me reconheço água-corrente; cachoeira.

Já não me sentia objeto de desejo.
Não fosse a lonjura, teria ido;
Não fosse a doçura, seria menos.
O beijo nega calor - abana o gelo.
E o coração aperta na lágrima do tempo.

Talvez me faltassem os músculos,
Quem sabe fora o cheiro.
O certo é que o olhar tortura
E a noite que perdura adormece algo;
Um cansaço que se apossa e não mais livra.

Haveria uma batalha eterna a se travar
E esse soldado aposentado se perdeu na permissão.
Com as mãos feridas, ensaiado pro carinho,
Ajoelhou frente à guerra e rezou o pacifismo.
Chame egoísmo ou covardia; eu me sinto piedade.

Houve um último esforço. Adormeço.
Não fosse a história, teria sido;
Não fosse a memória, seria casto.
O caso é que o verão nem chegou
e ao sol que raiou não nos coube iluminar.

Com o rosto marcado pelo suor da saudade
E a face tristonha com o gosto da decepção,
Semeio o coração e, apesar de todo o cansaço,
Eu amanheço na certeza que, acima da ladeira,
adormece a minha paz.

(Max da Fonseca)

4 comentários:

Lucas Matos disse...

... ou eu deveria dizer alguma coisa.
O óbvio não se diz!

Abraços poeta, saudades

Fabrício de Queiroz disse...

Mas se brincar, a gente nem chega lá.
Tentemos.


Um abraço

Nuriko disse...

Quem sabe em algum lugar realmente "adormeça alguma paz".

MaLu F disse...

Você é e será Eterno em mim, que te conheci quando não muitas coisas te 'pertubavam', e é obvio que isso uma hora iria mudar, e ate me sinto infeliz por não ter aproveitado mais e agora os encontros não existe, a culpa é toda do tempo!

Compaixão é fortaleza, o sol nasce pra todos e o caminho é um só.


A Xícara está de pé!